A Rússia foi esta quinta-feira suspensa do Conselho de Direitos Humanos na ONU, com uma votação muito significativa a favor dessa suspensão. Mas, uma análise mais fina dos resultados – uma entre tantas outras que é possível fazer-se – revela que, ao contrário do que poderia supor-se, o grupo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa está de costas voltadas para esta maioria.
De facto, dos nove países que fazem parte do agregado, apenas Portugal e Timor-Leste votaram favoravelmente a esta suspensão – que pouco depois se tornou numa saída, dado que a Rússia decidiu deixar o Conselho, apesar de ter afirmado que se manterá como um país firmemente defensor dos direitos humanos.
Aparentemente, na CPLP, a decisão não foi ao gosto da maioria. Ninguém votou contra a suspensão da Rússia, mas Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique abstiveram-se (são 55% do total de nove países). Se se quiser ser ainda mais drástico, e uma vez que São Tomé e Príncipe e a Guiné-Equatorial têm pelo menos alguns dos seus direitos da ONU suspensos – nomeadamente no que tem a ver com os direitos de voto – o universo de votantes da CPLP seria reduzido a sete, sendo a abstenção foi da preferência de 71% do grupo.
Para um analista ouvido sobre o assunto, fica claro que, sendo a maioria dos países que se abstiveram oriunda de África, há razões para considerar que as suas economias dependem numa importante parte da Rússia. Quanto ao Brasil, não havia surpresa: o país liderado por Jair Bolsonaro foi o último a visitar oficialmente a Rússia poucos dias antes da invasão da Ucrânia pelas tropas comandadas por Vladimir Putin, e continua a ter fortes reservas em aceitar as sanções impostas ao país.
O analista recorda ainda que uma recente cimeira organizada e liderada pela Rússia com os países africanos, no final de 2019, em Sochi, onde estiveram vários países da CPLP, nomeadamente Angola, permitiu concluir que a influência do Kremlin no continente está a crescer.
A influência da Rússia em África é, aliás, segundo a mesma fonte, um dos motivos para que a China (que votou contra a suspensão da Rússia) recuse assumir um papel mais claro de oposição ao Kremlin. É que, recorda, em África está uma quantidade não despicienda de matérias-primas e de produtos naturais que são cada vez mais procurados pelas grandes super-potências.
Por outro lado, recorde-se, os Estados Unidos parecem ter um desinteresse crescente pelo continente – que, em termos de diplomacia e geopolítica, lhe tem reservado alguns dissabores. A União Europeia, ao contrário, tenta manter uma posição de relevo, nomeadamente no que tem a ver com projetos de investimento reprodutivo. A isso não é alheio o facto de ser precisamente a União Europeia a região mais procurada pelos fluxos de imigração de cidadãos que tentam escapar às guerras e as generalizadas péssimas condições de vida da maioria da população do continente.
Mas a influência da Rússia mantém-se: “Estamos a exportar atualmente 22,5 mil milhões de euros por ano em alimentos, o que é um valor maior do que o que resulta da venda de armas, que representam 13,5 mil milhões de euros”, disse na abertura da cimeira o presidente russo.
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